sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Série Tabagismo Jornal Nacional

OMS: metade dos fumantes vai morrer por doença ligada ao tabaco

Para cada pessoa que fuma, há pelo menos outra exposta à fumaça. Muitos fumantes só conseguem largar o cigarro ao descobrirem uma doença.


Para cada pessoa que fuma, há pelo menos outra que fica exposta à fumaça. O repórter André Luiz Azevedo mostra que muitos fumantes só conseguem largar o cigarro quando descobrem que estão doentes.
Rosa Garcia fuma há 36 anos e está com câncer no pulmão. Joel Ferreira é fumante desde os 14 e tem câncer na laringe. Maria Helena fuma há 40 anos e tem câncer na boca.
“Pode ter sido cigarro, sim. Porque eu só fumo desse lado”, reflete Maria Helena.
Em uma pesquisa feita em 14 países que representam metade da população mundial, o Brasil se destacou como o segundo país com menor percentual de fumantes: 18%. Isso representa quase a metade do que era há 22 anos.
Segundo os dados oficiais, são cerca de 25 milhões de fumantes no Brasil.
“Nós queremos reduzir ainda mais essa proporção. O nosso alvo em primeiro lugar são as mulheres, os jovens e as pessoas de mais baixa escolaridade”, diz o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O problema não é só dos fumantes. Quem está em volta também sofre; 24 milhões de pessoas no Brasil são fumantes passivas dentro de casa. No apartamento da corretora de seguros Ana Cecília, ela é a única que fuma.
“Não gosto de ficar perto, é muito ruim o cheiro”, reclama a filha Isadora.
“Ela fuma lá no quarto dela e a fumaça vem para cá. Todo mundo fala que quem não fuma mas tem fumante dentro da casa é fumante passivo. E não é bom”, avalia a mãe Anna Maria Levy de Lavor.
Diante de tanta pressão, Ana Cecília diz que tem ir para a rua para fumar, e isso não acontece só em casa. Ela conta que no trabalho é a mesma coisa. “É proibido, então tem que fumar escondido.”
As restrições ao fumo não são as mesmas no Brasil inteiro, já que muitos estados e municípios têm leis específicas sobre o cigarro bem mais severas do que a atual legislação federal, que é de 15 anos atrás. A lei federal proíbe o fumo em recintos fechados coletivos, mas autoriza áreas para fumantes, conhecidas como fumódromos.
Sete estados já têm legislação própria com proibição total ao fumo em qualquer ambiente fechado. Um projeto de lei em discussão no Congresso quer levar a restrição para todo o país.
“Somente uma proibição integral do tabagismo nos ambientes fechados é eficaz para proteger a saúde da população”, defende Felipe Mendes, técnico da Comissão de Controle do Tabaco.
A OMS afirma que metade dos fumantes vai morrer por alguma doença relacionada ao tabaco. No Brasil, são 200 mil mortes por ano devido ao tabagismo, segundo o Instituto Nacional de Câncer. O médico do instituto Ricardo Meirelles usa uma imagem chocante para mostrar as doenças provocadas pelo fumo. São doenças graves, nem sempre associadas ao tabagismo.
“Fumante é uma pessoa que vai ter mais pneumonia, mais tuberculose, mais infecções respiratórias altas, como sinusite. Outras substâncias também no cigarro vão levar a alterações oculares. O cigarro também pode levar à cegueira. Osteoporose também é muito frequente”, alerta Meirelles.
No caso do câncer, mesmo para quem já está doente por consequência do cigarro, os médicos alertam sobre a importância de parar de fumar.
“O resultado do tratamento do câncer em um paciente que para de fumar logo após o diagnóstico é melhor. Ele vai ganhar em qualidade de vida e em sobrevida se ele parar de fumar”, aponta Cristina Cantarino, médica do Inca.
Maria Helena afirma que está parando de fumar. “Vinte e três dias.”

Rede pública oferece tratamentos a fumantes que queiram deixar o vício

O Ministério da Saúde estima que 19 milhões de fumantes precisam de tratamento para deixar de fumar. Segundo o Inca, 85% das pessoas que tentam deixar de fumar sozinhas têm recaída dentro de uma semana.


O Jornal Nacional exibe nesta quinta-feira (1º) a terceira e última reportagem da série sobre tabagismo. O repórter André Luiz Azevedo mostra como é o tratamento na rede pública de saúde para quem quer parar de fumar.
Preparar o cafezinho da tarde é uma rotina para Dona Regina, um hábito que a aposentada não larga, assim como o cigarro. “É a minha felicidade”, ela conta.
Companhia, apoio, ajuda contra a ansiedade e, assim, vão quase dois maços por dia. “Fumo há 56 anos. Tentei parar, mas não consegui. Dessa vez agora, fiquei sete meses sem fumar. Voltei porque eu fiquei gorda demais. Uma velha gorda, pelo amor de Deus! Não, eu voltei a fumar!”, diz Regina.
Segundo um relatório do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 85% das pessoas que tentam deixar de fumar sozinhas têm recaída dentro de uma semana.
“Voltei, não tem motivo. É o hábito, a convivência, o ambiente”, avalia o aposentado Raul Ribeiro.
A guerra contra o cigarro é difícil, todo mundo sabe. Por isso, tem muitas frentes, muitas táticas. Mas a boa notícia é que ela está sendo vencida. Além de quem nunca fumou, hoje, no Brasil, já há mais ex-fumantes do que fumantes.
Todo dia, em algum lugar do país, surgem grupos de pessoas que querem aprender como vão parar de fumar. Em um deles, Dona Regina desabafa. “Minha ânsia de comer, de madrugada, de abrir a geladeira”. E, depois, ouve: “No começo, você pode até engordar, mas você tem que ter paciência e isso vai voltar ao normal”, orienta a coordenadora do grupo.
O estímulo, muitas vezes, vem dos companheiros de grupo. “Eu estou me sentindo mais bonita, toda vez repito a mesma coisa: ‘meus dentes estão maravilhosos’. Estou fazendo bem a mim, a minha família, a meus amigos que convivem comigo, e a maioria não fuma, acho que estou fazendo bem à humanidade”, conta a diarista Daniele Ferreira Gomes.
O Ministério da Saúde estima que 19 milhões de fumantes precisam de tratamento para deixar de fumar.
“Tabagismo é uma dependência. A gente está falando de uma droga. Tanto a parte física, psicológica ou comportamental precisa, sim, de tratamento. Em geral, a relação mais longa que o fumante tem na vida é com o cigarro”, explica Sabrina Presman, coordenadora do Programa de Combate ao Tabagismo no Rio.
O Brasil foi o primeiro país a fornecer, na rede pública, medicamentos para combater o vício. Mas o programa, oferecido pelo Sistema Único de Saúde, só existe em cerca de 900 dos mais de 5 mil municípios do país.
“Esse ano, nós já estamos oferecendo R$ 46 milhões a partir dos pedidos que vieram dos municípios e dos estados. Hoje, mais de 2 mil unidades básicas de saúde do país já oferecem esse tipo de tratamento”, afirma o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Os tratamentos e programas de apoio para largar o cigarro tentam passar uma mensagem bem simples: começar a fumar é fácil, parar é difícil, mas em qualquer idade vale a pena.
“Tenho vontade de fumar. O vício continua. É um hábito adquirido há 12 anos. Não tem como esquecer esse hábito em 21 dias. Agora eu tenho mais força de vontade do que vício, eu não quero mais fumar”, garante Daniele.
“Eu fico assim: ‘vou te deixar, condenado. Vou te deixar, condenado!’. Mas eu vou deixar, se Deus quiser”, torce Regina.

Quase 80% dos fumantes acenderam 1º cigarro antes dos 20, diz estudo

A campanha de combate ao fumo de 2011 quer mais do que fazer as pessoas abandonarem o cigarro. Quer evitar que elas comecem a fumar. Por isso o público alvo é o jovem, principalmente o adolescente.


O Jornal Nacional estreia nesta segunda-feira (29) uma série de reportagens sobre o tabagismo no Brasil. O tema da primeira é o consumo de cigarro pelos jovens. O repórter André Luiz Azevedo explica por que os adolescentes são o foco da campanha lançada pelo Ministério da Saúde neste Dia Nacional de Combate ao Fumo.
Eles não podem comprar cigarro e não podem fumar dentro da escola, mas o cigarro é a companhia de muitos adolescentes.
Um menino diz que começou a fumar com 14 anos e que, se quisesse, conseguiria largar o cigarro. “Começou em um grupo de amigos. Muita gente fumava. Acabei pedindo para experimentar”, conta.
A campanha de combate ao fumo de 2011 quer mais do que fazer as pessoas abandonarem o cigarro. Quer evitar que elas comecem a fumar. Por isso o público alvo é o jovem, principalmente o adolescente. Porque todas as pesquisas mostram que é geralmente nesta fase da vida que eles se viciam.
Um levantamento do Ministério da Saúde revela que quase 80% dos fumantes acenderam o primeiro cigarro com menos de 20 anos, e 20% com menos de 15 anos.
“Tem muitos que fumam desde os 12 anos e estão fumando até hoje com 17 anos”, afirma o estudante Leonardo França.
“Você resolve experimentar e acaba caindo no vicio, gostando. Nunca experimentei”, acrescenta Marcos Caetano, de 17 anos.
Segundo uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (29) pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), o número de meninas de menos de 15 anos que já comprou cigarro chega a mais de 50% em Porto Alegre, e o de meninos é só um pouco menor em Fortaleza.
Um colégio público na Baixada Fluminense faz várias ações de alerta contra o fumo. Exemplos de como um programa de conscientização nas escolas pode ajudar. O jogo de dados passa informações sobre como o vício começa. Na peça de teatro, o garoto que representa o pulmão não resiste.
“A gente já tem feito vários programas antitabagismo, e nós não temos feito só dentro da escola. Nós temos alcançado a comunidade também”, comenta a diretora da escola Dayse da Fonseca.
As ações educativas são importantes, mas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não são tão eficazes quanto medidas mais amplas. Para alcançar um país inteiro, a Comissão Nacional que coordena o controle ao tabaco tenta dificultar o acesso dos jovens ao cigarro.
“Toda a estratégia de mercado, a linguagem da propaganda, a estratégia das embalagens, inclusive os baixos preços praticados, tudo tem como objetivo seduzir os jovens, principalmente o adolescente”, explica Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq).
Uma das medidas que a comissão defende é a proibição da adição de sabores como menta ou chocolate.
“A experimentação do cigarro geralmente causa certo desconforto. A pessoa tosse, não é agradável. Tornando esse cigarro mais saboroso facilita que os jovens comecem a fumar mais regularmente”, alerta Valéria Cunha, coordenadora da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca.
Para ser aprovada, a medida passou por uma consulta pública aberta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no fim do ano passado. O tema recebeu milhares de sugestões, a maior parte da indústria do fumo, que estão sendo analisadas pela Anvisa.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Fumo, os ingredientes que dão sabor ao cigarro apenas atendem à demanda dos consumidores adultos. A Abifumo ressalta que a indústria só produz cigarros para fumantes maiores de 18 anos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a melhor maneira de reduzir o consumo é aumentar o preço do cigarro. Isso vai acontecer a partir de dezembro, quando o preço do maço pode ficar até 20% mais caro por conta do aumento dos impostos, anunciado na semana passada.
O governo determinou ainda um preço mínimo para o maço: R$ 3 até dezembro de 2012; R$ 3,50 em 2013; R$ 4 em 2014; e R$ 4,50 em 2015.
“Estudos do banco mundial mostram que o jovem é muito mais sensível ao preço, duas a três vezes mais sensível ao preço do que o adulto”, revela Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Conicq.
A Souza Cruz, maior fabricante de cigarros do país, afirma ser a favor do valor mínimo por maço, mas alerta que o aumento de preços pode empurrar o fumante para os cigarros ilegais, mais baratos, favorecendo o contrabando.

Novidades da indústria do cigarro estão atraindo os adolescentes

O fumo entre adultos vem caindo nas últimas décadas e a indústria do tabaco se viu obrigada a seduzir um outro público.

Dia 31 de maio, é o Dia Mundial Antitabagismo. O Brasil poderia até comemorar uma conquista, nessa área porque o número de adultos que fumam caiu nos últimos 20 anos.
O problema é que as novidades da indústria do cigarro estão atraindo os adolescentes.
Uma jovem tinha apenas 12 anos quando fumou pela primeira vez. Hoje, aos 17, diz que é um vício: “Meu avô morreu de câncer de pulmão por causa de cigarro, mas eu não consigo parar”, contou.
Segundo a organização não governamental Aliança de Controle do Tabagismo, o fumo entre adultos vem caindo nas últimas décadas e a indústria do tabaco se viu obrigada a seduzir um outro público.
Os cigarros passaram a ter cores, cheiro e até sabores diferentes, como menta e chocolate, e com isso atraíram principalmente os jovens. Mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que os aditivos que dão essa nova cara ao produto também aumentam o seu potencial tóxico.
“Eu fumo mentolado. Diminui aquele gosto de nicotina que o cigarro normal tem. Acabei entrando no vício”, disse outra jovem.
Os aditivos nos cigarros foram banidos nos Estados Unidos e no Canadá e é uma das medidas previstas em uma convenção para o controle do tabaco, compromisso internacional assinado pelo Brasil e mais 172 países.
Uma outra determina que o governo brasileiro tem até o fim do ano para regulamentar a publicidade nos pontos de venda. Há uma década, a propaganda já é proibida nos meios de comunicação.
“Ao todo, 78% da população aprovam a proibição de publicidade nos pontos de venda, 86% aprovam a proibição de publicidade voltada para os jovens, ou seja, a gente tem o apoio da população”, explicou Paula Johns, da ONG Aliança de Controle do Tabaco.
E campanhas precisam alertar mais os jovens. “É importante que o adolescente saiba que ele é manipulado pelas propagandas. Aquela linguagem de liberdade que eles usam não é nada daquilo que eles vão encontrar depois que experimentam o primeiro cigarro”, destacou Tânia Cavalcante, do Instituto Nacional de Câncer.

Médicos alertam para os perigos do consumo de fumo no narguilé

Comum entre os jovens, uma tragada no aparelho de origem oriental equivale a 100 cigarros. Compartilhar a piteira também pode trazer riscos para a saúde.

Uma forma de tabagismo que tem atraído muitos jovens brasileiros por causa dos aromas e do ritual motivou um alerta dos médicos. Um estudo comprovou que os narguilés, ou narguíles, são mais perigosos para a saúde do que o cigarro comum.
A fumaça com vários aromas.
“Frutas vermelhas, menta”, diz um rapaz.
“Essenciazinhas. Tem de frutas, morango, essas coisas”, diz Bárbara Leandro, de 20 anos.
A peça que parece um vaso recebe carvão em brasa pra queimar o fumo aromatizado. A fumaça passa pela água e sai por uma mangueirinha, direto para o pulmão do fumante.
Uma pesquisa mostrou que o uso do aparelho de origem oriental virou hábito para 37% dos jovens fumantes na cidade de São Paulo. Muitos são menores, como um menino de 15 anos que usa em casa.
“Minha mãe, às vezes, fuma comigo, meu pai fica falando para parar com isso, que faz mal”, diz o adolescente.
“Assim, eu acho que não faz tão mal até porque você não traga”, conta um rapaz.
O mal que cigarro provoca no organismo já é bem conhecido, mas pouca gente sabe que a fumaça produzida no aparelho é ainda mais perigosa. O tabaco colocado dentro dele, quando queimado, libera as mesmas substâncias tóxicas, mas numa concentração bem maior do que as que um fumante comum está habituado a inalar.
Um estudo da Organização Mundial de Saúde mostrou que uma rodada de narguilé, ou narguíle, como alguns costumam chamar, equivale a fumar até 100 cigarros. Essa espécie de cachimbo d’água tem 100 vezes mais alcatrão, 4 vezes mais nicotina e 11 vezes mais monóxido de carbono que um cigarro comum.
“Infelizmente, muitos adolescentes acreditam que a água vai purificar, vai tirar os metais pesados e isso não é verdade”, explica a diretora do programa de apoio ao tabagista, a médica Stella Regina Martins.
E a médica ainda alerta para um perigo extra: o grupo quando fuma, costuma compartilhar a piteira: “E isso, para saúde pública, também é grave, porque os níveis de contaminação por tuberculose, por herpes labial e por hepatite aumentam”, explica.
No estado de São Paulo, desde 2009, a venda do aparelho é proibida para menores de 18 anos. E a Anvisa quer impedir que fumos e cigarros aromatizados cheguem às mãos dos consumidores: uma maneira tornar o tabagismo menos atraente para os jovens.

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