sábado, 2 de julho de 2011

Tecnologia

Como a tecnologia está mudando o jeito de aprender dentro (e fora) das salas de aula
Fonte : Info

25/09/2009
Foto: Daniela Toviansky
Foto: colégio bandeirantes

"O uso da internet no ensino tem alterado a relação entre alunos e professores"

Começa mais uma aula no laboratório de biologia do Colégio Bandeirantes, em São Paulo. Estudantes do ensino médio observam lâminas com pedaços de pele em microscópios digitais conectados a laptops. A professora fala sobre as estruturas celulares que são exibidas em um telão. Dá zoom nos pontos que pretende destacar e pede para os alunos mudarem de lente para observar mais detalhes. É com os computadores que cada grupo grava as imagens do microscópio para poder estudar melhor depois. Dos notebooks na sala de aula aos microscópios superavançados, a tecnologia está cada vez mais presente nas escolas brasileiras, particulares ou públicas. E não é apenas porque as instituições querem tornar as aulas mais high-tech: a demanda também parte dos próprios alunos, uma geração cada vez mais multitarefa. No Bandeirantes, por exemplo, antes de os novos aparelhos serem adquiridos para os laboratórios, os alunos já tomavam a iniciativa de bater fotos ou gravar vídeos daquilo que viam - em seus celulares, claro. Tanto professores como alunos vivem um momento de transição. Os recursos digitais disponíveis hoje ainda não foram totalmente explorados e há um mundo de possibilidades. Aos poucos, as experiências se multiplicam por todo o país. "Existe um potencial gigantesco e há muito mais benefícios do que riscos", diz Roseli de Deus Lopes, professora do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e especialista no uso de tecnologia aplicada à educação.


1. Quais as vantagens em aplicar a tecnologia à Educação?

Como um dos principais papéis da escola é o de ensinar a pensar, quanto maior o número de ferramentas disponíveis, melhor pode ser o estímulo. "Quando usam a tecnologia, eles vão longe", diz Roseli. Ela cita como exemplo o projeto de um grupo de estudantes do Centro Educacional Sigma, de Brasília, premiado na 4ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). Com a ajuda de um site de uma universidade portuguesa, os adolescentes desenvolveram um modelo de trem de levitação magnética.

2. Como as escolas montam a estrutura?

Uma das tendências que vem ganhando força nos colégios é a distribuição de um computador para cada estudante. Os netbooks são uma escolha frequente, mas nem sempre é essa a regra. Cada um dos cerca de 200 alunos do ensino médio do D'Incao Instituto de Ensino, em Bauru, carrega um MacBook na mochila. Os laptops, que podem ser levados para casa, serão dos adolescentes quando eles se formarem. Para isso, os pais pagam à escola uma taxa de manutenção mensal. "Usar Mac saiu caro no início", diz Pedro D’Incao, diretor pedagógico do colégio. "Mas foi a solução mais econômica. Não temos problemas com vírus e a manutenção é baixíssima." O colégio de Bauru conta com rede Wi-Fi, e não há bloqueio de sites considerados inadequados pela direção. Isso não significa que os estudantes podem entrar no orkut. O acesso à internet dentro da instituição é monitorado. Quem desobedecer recebe uma suspensão. Se insistir, o aluno pode ser expulso. No Colégio Bandeirantes, de São Paulo, ainda não há um notebook para cada aluno. Isso deve ocorrer dentro de dois a três anos, prevê Sérgio Américo Boggio, diretor de tecnologia aplicada à educação. Por enquanto, há Wi-Fi na biblioteca e os estudantes podem usar notebooks para pesquisar e estudar. A escola se preocupa em dar orientações sobre como extrair o máximo da web. Isso inclui até dicas para descobrir se as informações de um site são verdadeiras. "Temos a obrigação de preparar os jovens para trabalhar em um mundo com tecnologia", afirma Baggio. No Dante, em São Paulo, netbooks, lousas digitais, robótica e até webjornais estão entre as ferramentas adotadas. Os alunos já fizeram uma webconferência, via Skype, com os pesquisadores brasileiros na Antártica. "A gente consegue agregar um valor pedagógico grande, com um investimento quase zero", afirma Valdenice Minatel, coordenadora do Departamento de Tecnologia Educacional do Dante. "Se uma atividade fica melhor com o computador, indicamos o uso. A gente tem que pensar a escola para esse público, que hoje processa informação em vários canais."

3. Que atividades podem ser desenvolvidas em classe?

Entre as atividades desenvolvidas com o auxílio dos MacBooks estão videocasts e podcasts, que substituem os trabalhos por escrito. "O interesse cresce muito. O uso de ferramentas multimídia ou colaborativas, como wikis, faz o aluno trabalhar melhor o conteúdo", afirma D'Incao. O tipo de atividade desenvolvida varia. Nas aulas de inglês, os podcasts servem para treinar a pronúncia dos estudantes.
4. Dá para usar a tecnologia fora da classe?
Com o aumento do número de casos da gripe suína no Brasil, em julho, muitas escolas decidiram adiar o reinício das aulas para 17 de agosto. Mas algumas instituições aproveitaram a tecnologia para compensar esses dias a menos. No Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, os professores colocaram o material de revisão online pelo Moodle (http://www.moodle.org/), um ambiente de ensino a distância feito em software livre que tem se tornado bem popular. "Mesmo se você estiver viajando, consegue entrar lá e estudar", diz a aluna Carolina Guimarães Pastore, de 16 anos.

5. O professor tende a perder a importância diante da tecnologia?

Não, mudanças como essas não tiraram a relevância dos professores. "Eles têm de dar uma boa aula e saber bem o conteúdo", diz D'Incao, diretor do D'Incao Instituto de Ensino.
6. A tecnologia modifica a relação aluno-professor?
Sim, o uso da internet no ensino também tem alterado a relação entre alunos e professores. De acordo com a professora Roseli de Deus Lopes, da Poli-USP, não é difícil os estudantes descobrirem, antes dos educadores, novas formas de usar os recursos digitais. Isso tem ocorrido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ernani Silva Bruno, em Parada de Taipas, na zona norte de São Paulo. Ali estão sendo testados protótipos do XO, o famoso laptop de 100 dólares, parte do projeto Um Computador por Aluno (UCA), do governo federal. Alguns dos estudantes são monitores e têm ajudado os professores a descobrir novos usos para o aparelho. "O aluno deixa de ser passivo e passa a agir de modo ativo, como alguém que está desenvolvendo um conhecimento novo", afirma Roseli, que coordena os testes. O uso dos laptops trouxe a redução do número de faltas, além da diminuição da evasão escolar. O interesse pelas aulas e a autoestima também aumentaram.

7. O que é o projeto UCA?

Anunciado há mais de três anos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto UCA ainda está longe de sair do papel. A ideia de distribuir um laptop para cada uma das 34 milhões de crianças da rede pública do país esbarrou principalmente na falta de recursos. O valor mais baixo obtido na licitação para a compra de 150 mil máquinas (550 reais, pelo indiano Mobilis) ficou bem acima dos sonhados 100 dólares, e o processo emperrou. Se todos os alunos ganhassem um modelo adquirido por esse valor, a conta passaria dos 18 bilhões de reais.

8. Que fim levou o XO?

O famoso laptop de 100 dólares, ou XO, idealizado por Nicholas Negroponte, do MIT, fez barulho há três anos. Hoje, pouca gente ouve falar dele aqui no Brasil. É que, na primeira licitação para a compra dos aparelhos para as escolas, feita pelo governo federal, seu preço por unidade bateu a estratosfera (700 reais) e tornou a compra inviável na época. Apesar do sumiço, o XO ainda respira. Há projetos educacionais usando a máquina em 28 países, incluindo os nossos vizinhos Uruguai, Paraguai, Peru e Colômbia e até a Mongólia.

9. Existe alguma experiência notável no Brasil?

Em agosto de 2009, Piraí (RJ) foi a primeira cidade a ter equipamentos distribuídos para 100% dos estudantes da rede pública municipal por meio do programa federal. Eles receberam 5,5 mil Classmate PCs, da Intel. Em vez de esperar até que o Palácio do Planalto e o Ministério da Educação repitam o gesto, outros municípios começam a se movimentar sozinhos para levar a tecnologia para o sistema educacional. Em Campo Limpo Paulista (SP), crianças e adolescentes matriculados no ensino fundamental também usam o Classmate.
Os professores adotam os notebooks educacionais, comprados pela prefeitura, em 30% das aulas. "Eu achei muito bom. O computador me ajuda a aprender as matérias e agora eu presto mais atenção", afirma Cleber Vinicius Silva, de 13 anos, que estuda na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Thomazina. As lousas com giz também foram aposentadas. Agora, são usados modelos digitais interativos comprados da empresa Smart Technologies. "Fico online o tempo todo e, se surge uma ideia, posso mostrar. Uma aula que eu preparava para 50 minutos agora dou em 20", diz Silvia Cristina Miranda, de 38 anos, professora de português. A aluna Renata Faria Cardoso Rosa, de 14 anos, aprovou o novo modelo. "É mais gostoso de aprender."

10. As tecnologias são uma tendência?

Até que ponto essas novas ferramentas são realmente necessárias para que a educação mude para melhor? Para a professora Léa da Cruz Fagundes, coordenadora de pesquisa do Laboratório de Estudos Cognitivos (LEC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista no tema, o uso de computadores é fundamental para mudar a cultura da escola. "Os recursos digitais podem ajudar a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades e competências de um futuro cidadão digital", afirma.

Isso só vai ocorrer, no entanto, se professores e estudantes passarem a lidar com essas ferramentas de uma maneira diferente da atual. "Os estudos experimentais que realizamos mostram que a escola introduz a tecnologia digital apenas para reproduzir o passado", diz Léa. "Permanecem a segmentação do que se pretende ensinar, a linearidade dos conteúdos das disciplinas curriculares e a fragmentação do conhecimento."

11. Quando a tecnologia mudará o ensino?

Só vai acontecer uma revolução, segundo a pesquisadora, quando houver autonomia para os professores experimentarem mais, sem medo de cometer erros. "A sala de aula será o que decidirmos fazer dela", afirma. "O que pode acontecer, se persistirmos na resistência às mudanças, é que, no futuro, essas salas se esvaziem pela escolha das novas gerações, por não atenderem às suas necessidades. Apropriar-se da cultura digital é reinventar a escola."

12. O uso da tecnologia melhora a nota?

Nem sempre a tecnologia faz diferença. Um estudo feito a pedido do Congresso dos Estados Unidos em 132 escolas concluiu que o uso de programas educacionais de matemática não melhorou as notas dos estudantes.

13. Existem aplicativos gratuitos?

Sim, há várias ferramentas sem custos que podem ajudar na interação nas aulas. Alguns exemplos:

-Stellarium: www.info.abril.com.br/downloads/stellarium
O programa funciona como planetário virtual. Basta colocar as coordenadas do local onde você está para ver o céu naquele momento.

-2. Jmol: www.info.abril.com.br/downloads/jmol
Feito em Java, o aplicativo permite visualizar em 3D estruturas moleculares simples ou complexas, como o DNA.

-3. Geogebra: www.info.abril.com.br/downloads/geogebra
O software é indicado para quem adora matemática. Com o programa é possível, por exemplo, visualizar funções e criar modelos geométricos.

14. Quais são as boas referências na web?

Não faltam elementos na web para professores enriquecerem o conhecimento dos estudantes. Veja onde há um vasto material reunido

-Portal do Professor:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/
É possível baixar conteúdo multimídia e dicas de experimentos para usar na sala de aula. Os arquivos ficam em "Recursos Educacionais"

-Centro de Referência em Educação Mário Covas:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/
A área "Recursos de Ensino" traz uma enorme quantidade de sites com conteúdo de todas as matérias

-Banco Internacional de Objetos Educacionais:
http://objetoseducacionais.mec.gov.br/
O site, ligado ao MEC, reúne links para quase 7 mil home pages e arquivos, divididos por nível de ensino e matérias

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