segunda-feira, 4 de julho de 2011

Caso Juan

Caso Juan 09/07/2011 JN
Testemunha da morte do menino Juan diz que viu policiais tentarem se livrar do corpo
A polícia do Rio de Janeiro reconstituiu, nesta sexta-feira (8), a morte de Juan, de 11 anos. A suspeita é que, no dia 20 de junho, PMs tenham baleado o menino na Baixada Fluminense e escondido o corpo.

Caso Juan

06 junho Jornal Nacional 

O corpo encontrado há seis dias na Baixada Fluminense era mesmo do menino Juan. Ele estava desaparecido desde a operação policial na região em que morava, no dia 20 de junho.

A perícia havia dito que o corpo encontrado há seis dias era de uma menina. Depois, foram feitos exames de DNA que comprovaram ser mesmo do menino Juan, que estava desaparecido desde o dia 20 de junho.

É com pesar que a Polícia Civil comunica oficialmente a morte do menino Juan Moraes. O anúncio foi feita nesta quarta-feira (6) pela chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, mas o corpo foi encontrado na quinta-feira passada (30).
Primeiro, a perícia disse que o corpo era de uma menina. Depois, foram feitos exames de DNA que comprovaram ser o de Juan.
“Esse foi o erro, uma precipitação da perita por umas características dos ossos que ainda não é tão pronunciado assim em um adolescente e sim em um adulto. Mas o exame de DNA não deixa nenhuma dúvida”, garante o diretor da Polícia Técnica do RJ, Sérgio Henriques.
O corpo foi encontrado às margens do Rio Botas, a 18 quilômetros da comunidade onde o menino desapareceu. As buscas só começaram na quarta-feira passada (29), mais de uma semana depois do desaparecimento de Juan.
De acordo com a família, o menino de 11 anos voltava para casa, quando foi baleado em um beco, em uma comunidade de Nova Iguaçu. A polícia disse que trocou tiros com um traficante no local. Os únicos vestígios de munição encontrados eram dos policiais. Os PMs disseram não ter visto Juan em nenhum momento.
Também ficaram feridos o irmão de Juan, de 14 anos, e outro rapaz de 19. Os dois foram incluídos em programas de proteção a testemunhas, assim como parentes deles.
A polícia encontrou vestígios de sangue nas viaturas usadas pelos policiais. Testes vão apontar se o sangue é de Juan.
Na terça-feira (5), eles e outros sete PMs que estavam a dois quilômetros do local prestaram depoimentos. As viaturas onde eles estavam foram periciadas.
Na próxima sexta-feira (8), os policiais responsáveis pelas investigações vão fazer uma reconstituição do crime no beco da comunidade Danon, em Nova Iguaçu, onde o menino Juan desapareceu. Além dos quatro PMs que afirmaram ter trocado tiros com um traficante no beco, testemunhas também serão chamadas para participar
“Se ficar comprovada as suas participações, serão expulsos da corporação. Além, obviamente, de serem julgados pela Justiça”, afirma o comandante-geral da PM do RJ, Mário Sérgio Duarte.
O delegado que investigava o caso foi afastado e a perita responsável pelo primeiro laudo vai responder a uma sindicância.

 

Homem afirma que viu menino desaparecido no Rio ser baleado

A testemunha afirma que levou três tiros e depois viu o menino ser baleado na frente dele. A versão do rapaz de 19 anos não bate com a dos policiais.
Um retrato, uma pipa esquecida no quarto, as roupas espalhadas: é tudo o que restou de um menino que há 12 dias empinava a pipa no campinho, brincava com a turma na escola, ocupava a carteira hoje usada pela coleguinha, nunca faltava à aula.

Juan, de 11 anos, está desaparecido. Na última vez em que foi visto, ele estava ferido à bala, no que seria um confronto entre policiais militares e traficantes. Era a noite de segunda, dia 20 de junho. Pouco depois da 20h, Juan e o irmão Wesley, de 14 anos, vinham da casa de um amigo.

A caminho de casa, os meninos precisavam cruzar um beco. Na verdade, um caminho entre os muros altos de duas casas. E foi nesse ponto que eles foram alvejados. No local, ainda estão as marcas que a perícia fez de onde foram encontradas manchas de sangue.

Wesley disse, em depoimento, que tomou um tiro no pé, viu o irmão menor caído, ensanguentado. Tentou ajudá-lo, mas recebeu outro tiro, no ombro. Então, se arrastou para fora do beco. Foi o último momento em que Juan foi visto com vida.

Quando entraram no beco, outro rapaz passava por ali. Wanderson, de 19 anos. Ainda está internado, tratando de ferimentos à bala na perna e nas costas. Por telefone, ele contou que vinha na frente dos irmãos: “O pequenininho passou na minha frente. Assim que a gente saiu, chegou no finalzinho do beco, aí começou o tiroteio. Eles começaram a atirar. Muito tiro. Ele foi baleado, eu tomei três tiros. Eu vi quando ele tomou o tiro. Ele estava na minha frente, então eu vi. As balas vinham de uma direção só”, conta Wanderson.

Ele está convencido de que foram os policiais que atiraram nos meninos. “Falaram que eu troquei tiro com eles. Então foram eles que atiraram, certo? Pelo que dá para eu entender”, confirma Wanderson.

O jovem conta que ele teria sido baleado mais ou menos às 20h30, 20h40. Aí está uma informação conflitante: os PMs disseram que foram ao local por causa de uma denúncia da presença de traficantes feita pelo serviço 190. A chamada registrada na central é de 20h54, portanto, depois de os três já terem sido baleados. A gravação não foi divulgada pela polícia.

Wesley e Wanderson conseguiram escapar. Wanderson ligou para o pai, que mora perto, e pediu socorro. Seu José diz que quando chegou ao local para socorrer o Wanderson, a polícia ainda estava lá, mas não viu bandidos. O seu José encontrou o filho ferido 20 minutos depois e o levou para o hospital.

De casa, a mãe de Wesley e Juan ouviu os disparos. Quando os tiros pararam, ela foi procurar as crianças. “Quando eu desci, passei justamente pelo beco. Passando pelo local, não tinha corpo nenhum. Só os polícias olhando para o mato. E falei: ‘Pelo amor de Deus, moço, meu filho. Meu filho de 11 anos estava passando no local na hora. Onde está meu filho?’ O policial respondeu: ‘Não pegamos criança nenhuma não, senhora”, conta a mãe do menino.

Ela encontrou Wesley ferido na rua. O filho falou: “Mãe, não esquenta comigo. Eu estou bem. Procura o Juan. O Juan caiu”.

Ao hospital, os PMs chegaram trazendo outro baleado: Igor de Souza Afonso, 17 anos, que morreu em seguida. Ele não tinha passagem pela polícia. Ao saber que havia mais dois feridos a bala, os policiais os prenderam: eram Wesley e Wanderson.

“Aquilo me deu desespero de perder o Juan e ao mesmo tempo meu filho ser preso como um traficante”, explica a mãe de Wesley.

Seu José, pai de Wanderson, conta: “Eu disse: 'Não, meu filho, não. Meu filho é trabalhador, ele estuda. Ele não tem tempo de traficar, não’”.

Há um ano, Wanderson trabalha, com carteira assinada, em uma loja de doces. “Em momento algum a gente acreditou no que os policiais disseram, Por que a gente sabe quem ele é. A gente conhece ele, sabe quem ele é. Quem é a família dele,” defende a colega de trabalho Vivian Nascimento. À noite, o rapaz estuda a duas quadras do trabalho.

No registro de ocorrência feito na delegacia, à 01h44 da manhã, os PMs apresentaram uma arma e drogas como sendo de Wanderson e apontaram Wesley como menor infrator. Mas, 45 minutos depois, mudaram o depoimento: Wesley passou de infrator a testemunha. Wanderson ficou cinco dias algemado à cama, até ter a prisão relaxada pelo juiz.

“Um menino de 11 anos desaparece, os outros dois vão para o hospital, são presos, tachados como bandidos. Eles ainda têm essa morte imoral, a sua dignidade atingida, as famílias arrasadas”, afirma Marcelo Freixo, da Comissão de Direitos humanos da Alerj.

A família de Juan deixou para trás o que não pôde levar nas mochilas e, na sexta-feira (1), entrou para um programa de proteção à testemunhas. A família de Wanderson também deve deixar a sua casa e mudar de estado. A mãe dos meninos não tem esperança: “É impossível meu filho estar vivo”.

Provas que ajudassem a desvendar o que aconteceu com Juan podem ter desaparecido. A perícia só foi feita oito dias depois. “No primeiro momento se entendeu pela oitiva de testemunhas, pela requisição do GPS, pelo exame das viaturas. Quando chega na DH, o delegado entende que precisa algo mais”, explica a chefe da Polícia Civil, Marta Rocha.

Foi só com o pedido da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense que os peritos acharam no beco o chinelo que Juan usava e cápsulas de fuzil. Quatro cápsulas estavam em um ponto e foram disparadas de uma mesma arma. Uma cápsula, de arma diferente, estava a alguns metros. A posição delas mostra que os atiradores tinham visão direta para o final do beco onde Juan, Wesley e Wanderson foram atingidos. Todas as cápsulas são das armas dos policiais.

“Não foram encontrados nenhum elemento técnico que garanta que foram efetuados disparos de arma de fogo em direção aos policiais. Entretanto, isso não quer dizer que não foram efetuados esses disparos”, explica Sergio da Costa Henriques, diretor do Departamento de Polícia Técnica do Rio de Janeiro.

“Se os processos indicarem que há participação de policiais nossos neste crime, eles serão encaminhados à Justiça e serão expulsos da corporação”, afirma o comandante da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte.

Por enquanto, os quatro PMs estão afastados. Um deles, o cabo Isaias Souza do Carmo, já se envolveu em outras oito situações em que um suspeito foi morto em confronto com a polícia. E o Fantástico apurou que outro policial envolvido neste caso, o cabo Edilberto Barros do Nascimento, já é réu em um processo de homicídio qualificado. Ele vai a julgamento este mês.

Doze dias. Onde está Juan?

Fonte Site : http://fantastico.globo.com

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